LANÇAMENTO EM SÃO PAULO
O lançamento do livro de Aline Bernar, sobre “O Sermão do Viaduto”, representou uma homenagem à autora e também à Nelly Novaes Coelho, reunindo gente amiga que gosta de poesia. Não choveu. Quando o dia amanheceu, no sábado (30 de janeiro), olhei bem para o céu e vi um tempo cinzento. Saí então para buscar Aline no aeroporto de Congonhas. E enquanto seguia para o aeroporto, pensava: “Bom seria se não chovesse!”. Pensei em um pouco de luz, de sol, para o lançamento do livro da Aline Bernar sobre o meu “O Sermão do Viaduto”. Não dormi bem de sexta-feira para sábado, pensando no lançamento. Meus amigos já conhecem a minha neura quando há lançamento me envolvendo. Enlouqueço. Uma preocupação excessiva. Aquele pensamento de que tudo tem de sair direito. Entro em desespero. E no lançamento de sábado teria de ser tudo especial, porque era o lançamento da Aline, de um livro que escreveu sobre mim e minha poesia. Não podia chover para não atrapalhar uma tarde que sonhei feliz para todos. Cheguei cedo no aeroporto e fiquei lá conversando comigo, em silêncio. Logo depois chegou Aline. Então senti que meu amor ainda possível e que me resta explodiu. Depois, foi depois. Até o lançamento. A maior parte de meus 19 leitores presente, além de outras pessoas que conheci no Lugar Pantemporâneo. Foi possível ver uma luz no meio da tarde, uma imensa luz de poesia, e toda a tarde se fez de poesia, e toda a poesia se fez de mais poesia. Então pensei que ainda talvez seja possível sonhar. Nada acontece por um acaso. Não existe coincidência em nada. As pessoas amigas, que se fazem amigas, formam uma família espiritual. E no caminho essas pessoas vão se encontrando. Penso assim no caso de Aline. Uma pessoa que não me conhecia, que foi para Portugal escrever um estudo sobre um livro meu. Exatamente num período em que procurei Portugal para achar minha vida que sinto perdida. E foi Aline que me fez dar a forma definitiva aos poemas de O Sermão do Viaduto, que teve edições de todo jeito em São Paulo, nem sei quantas. Poemas escritos à mão. Poemas mimeografados, quando ainda existia mimeógrafo. Cada poema saía escrito de um jeito. Nunca consegui dar a forma gráfica ideal para os poemas. Aline também me ofereceu isso: com seu estudo consegui, tantos, tantos, tantos, tantos, tantos anos depois, dar ao Sermão do Viaduto a forma que sempre desejei para os poemas. Depois o recital de poesia. Depois as palavras. Depois, o depois. E a tarde de luz. Mas faltou tanto a dizer. Faltou tanto. E é tanto preciso dizer. Ando triste, mas existem ainda momentos em que me sinto feliz. Como o de sábado. Esse sábado para sempre inesquecível. Como disse quando falei iniciando o lançamento: “Aline, nunca mais vou esquecer na minha vida”. E passo isso para todos que estiveram no Lugar Pantemporâneo. Não se trata somente de um evento literário. Não. Comigo não é assim. Nunca foi assim. As coisas todas vão além das coisas. É preciso sentir. Observar. Calar no ser mais profundo que existe dentro de cada um. No domingo de manhã levei Aline para o aeroporto. Quando ela desapareceu no portão de embarque para voltar ao Rio de Janeiro, fiquei ali sozinho observando as pessoas. Fiquei ali com três margaridas invisíveis nas mãos. Tinha também um girassol no bolso. E uma estrela no coração. Tinha uma alma dentro de mim. Sempre que estou muito triste demais, além do limite suportável, costumo ir para o aeroporto, fico sentado olhando as pessoas. Sempre faço isso. E me vi assim no domingo de manhã. Saí depois do aeroporto e vi que o domingo estava vazio. Mas havia poesia nele. Havia uma dor dentro de mim, que não sei explicar. Uma dor doendo lentamente. Uma dor de lembrar. Uma dor muito amorosa. De muito afeto. Alguma coisa que ainda não sei. Nem nunca saberei. A gente nunca sabe da poesia. A gente nunca sabe do amor. As pessoas se reencontram. A vida é muito longa de muitas outras vidas, de tantas outras vidas, de tantas outras passagens, de tantas outras eras. Nada é por acaso. Quero lembrar, ainda, algumas palavras que eu disse ao iniciar o lançamento, dirigidas a Aline Bernar, que ficam aqui com um testemunho de mim: “Meu agradecimento muito afetuoso a Aline Bernar, que sem me conhecer, interessou-se por minha poesia, o que resultou neste livro. Aline, é uma coisa que nunca esquecerei em minha vida”.
ALGUMAS FOTOS:
Fotos de JOSÉ ANITO