Poeta
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de Faria

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Poeta em Portugal 2

O POETA EM PORTUGAL

Cláudio Tognolli, escritor, jornalista, professor da Escola de Comunicações e Arte da USP.

-Mas esse assunto tem a ver com a produção de poesia no Brasil?

-Tem, claro que tem. Porque o que mais se vê – ressalvando as raras exceções – são as mentiras fabricadas quase todos os dias, tudo orquestrado, um jogo de cartas marcadas. Não dá mais para conviver com isso. É muito difícil encarar coisas assim a esta altura da vida. A poesia merece mais respeito. E eu falo isso na mais correta acepção da palavra: a poesia merece mais respeito. A poesia brasileira merece mais respeito. Os verdadeiros poetas brasileiros merecem mais respeito.

 

-Quero fazer a mesma pergunta que você costuma fazer aos poetas que entrevista: Afinal, para que serve a poesia ?

-Para nada. Para absolutamente nada. Mas sempre será muito difícil viver sem ela. Sempre será muito difícil compreender o outro sem ela. Sempre será quase impossível sobreviver às barbáries de todos os dias sem a poesia. Mas ela não serve para nada.

 

-Isso não é uma afirmação radical?

-Não sei. Mas concordo que muitas vezes sou radical em alguns assuntos. Talvez neste que estamos dizendo aqui. Sinceramente, não gosto de radicalismos, nem de generalizações. Por isso sempre ressalvos as exceções que felizmente ainda existem. No jornalismo cultural e na literatura também.

 

-Como foi e como tem sido essa trajetória em Portugal ?

-Começou em 1998, quando fui convidado, como poeta brasileiro, a participar do Terceiro Encontro Internacional de Poetas, na Universidade de Coimbra. Fui o poeta mais aplaudido e discutido do evento. Não se trata de discurso em causa próprio. Isto que estou dizendo está escrito no prefácio do primeiro livro publicado lá, assinado pela escritora e professora Graça Capinha, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. De lá para cá publiquei alguns livros em Portugal. Primeiro, em 1999, “20 poemas quase líricos e algumas canções para Coimbra”, depois em 2002, “Poemas portugueses” e agora, em 2005, “Sete anos de pastor”. No ano 2000 tive a infelicidade de trocar um livro meu, pessoal, em favor de uma antologia de poesia brasileira. Me peço perdão por esse pecado todos os dias. Mas não me perdoo. Só arrumei desafetos. Dessas coisas bem pequenas.

 

-E o futuro?

-O futuro não existe. Enquanto tiver espaço em Portugal, publicarei minha poesia lá. Depois faço a edição brasileira por aqui, enfrentando as humilhações costumeiras.

 

-Que mais você deseja dizer?

-Desejo dizer que ser poeta não é isso que está se vendo por aí. Ser poeta é ser muito mais. É tentar colher o invisível. Ser poeta é se misturar na vida até as últimas consequências, quando a gente se depara com todas as formas de morrer. Não é essa inconsequência que inverte os valores. Não é essa mentira. Ser poeta é sobretudo ser humano, é ter a coragem de abrir as mãos em busca do nada. De pular no abismo mas não morrer. De pular no abismo e sair voando…

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