SAUDAÇÃO DO ALCAIDE DE SALAMANCA, JULIÁN LANZAROTE SASTRE, NA ABERTURA DO ENCONTRO
Diez ediciones pueden significar poco o mucho. Sucede lo mismo con las personas, pues diez años representan también mucho o, en cambio, demasiado tiempo perdido. Em los diez primeros años de nuestra vida, por ejemplo, aprendemos a hablar, a comunicarnos sin decir y se nos premia con el sabor de los besos y el calor de los abrazos. Tras el final de la adolescencia, diez años más nos precipitan con urgencia y sin tregua al mundo de los adultos. Más tarde, ya mediada nuestra existencia, otra década nos amenaza con hacernos irreversiblemente mayores. En todo caso, diez años son siempre mucho si se caminaron com fuerza, vivieron con intensidad, y recopilaron en nuestra memoria o en una huella sonora o impresa, como el caso que ahora nos ocupa.
El Encuentro de Poetas Iberoamericanos representa, tras sus diez primeras ediciones, un camino apasionante, tanto por lo ya recorrido como por el futuro que nos deparará. La ocasión para estrechar distancias, acercar sentimientos y unir sensibilidades. Un incipiente clásico, una realidad consolidada. Alcanzó su cenit em la Cumbre Iberoamericana cuando, previamente a la llegada de los Jefes de Estado y de Gobierno, todos los países estuvieron representados a través de la palabra. Unidos por el vínculo más fuerte, el lenguaje, y por la poesía, vehículo privilegiado para expresar sentimientos. A partir de su novena edición, se inició una nueva senda dentro del mismo camino, que, desde entonces, nos permite homenajear cada año a un país de Iberoamérica a través de uno de sus principales poetas.
Esta renovada etapa comenzó de la mano de los versos perdurables y universales del mejicano José Emilio Pacheco. Ahora su relevo lo toma con el poder de la palabra el brasileño Álvaro Alves de Faria. Un polifacético creador que comunica como pocos. Un poeta cuyos versos han merecido los más importantes galardones en su país. Un intelectual capaz de construir también desde la crítica. Más de cuatro décadas escribiendo y publicando. Cuatro décadas plagadas de versos para atestiguar que ha sido y, sobre todo, que ha sentido intensamente. El escritor que busca a hombres que, cuando desaparecen, cargan bolsas con “algunos poemas sin palabras y ciertos gestos suicidas”. El mismo que reserva una habitación de olvidos, donde “dejo que viva lo que no fui, aquel gesto arrancado de las manos y la memoria muerta en un cajón”. El que ha narrado el tambor de los jinetes sobre los caballos negros que galopan ocho veces: “Excavan herraduras y dientes y excavan y excavan el incendio de esta muerte y de estos hierros retorcidos, desastre del fuego, hoguera quemando la piel y los nervios”. Álvaro Alves de Faria.
JULIÁN LANZAROTE SASTRE
Alcalde de Salamanca
DISCURSO DO POETA ÁLVARO ALVES DE FARIA
Sinceramente, não sei como agradecer esta homenagem, pela importância que assume em minha vida e pelo seu significado à minha poesia particularmente.
Mas começo por agradecer ao senhor alcaide de Salamanca, Julián Lanzarote Sastre; ao senhor presidente da Fundação Caminho da Língua Castelhana, Luis Alegre Galilea; ao senhor diretor da Fundação Salamanca Cidade de Cultura, Juan Francisco Blanco; à concejal de Cultura de Salamanca, Isabel Bernardo. Agradeço também a Pillar Fernández Labrador, a concejal de Cultura anterior, que fez o primeiro contato comigo no Brasil;
agradeço ainda aos professores membros do Comitê Organizador deste Enconto de Poetas Iberoamericanos, junto a eles Maria Jesus Rodrigues Macias, da Fundacão, que tratou das questões ligadas à minha viagem a Salamanca; ao pintor Miguel Elias Sanches, que fez meu retrato para a antologia.
Agradeço e cumprimento os poetas participantes deste Encontro, José Maria Muñoz, Verônica Amat, Helena Villar Janeiro, Carlos Aganzo, Jordi Doce, Pio Serrano, Maria Fernanda Espinosa, Jorge Fragoso (meu editor em Coimbra, que tem me dedicado uma atenção imerecida), Luis Alberto Ambroggio, Júlio Espinosa Guerra, Álvaro Matta Guillé e Mário Alonso.
E, finalmente, a um poeta irmão de alma que eu não sabia ter em Salamanca, que me pediu não fosse citado em qualquer agradecimento que eu fizesse. Mas não posso atender o querido amigo no pedido que me fez. Falo de Alfredo Perez Alencart, que selecionou e traduziu os meus poemas para a antologia “Habitación de Olvidos”, título que ele tirou de um verso – “quarto de esquecimentos “ -, gesto que não esquecerei nunca, por sua dedicação, cordialidade, seu trabalho generoso, um poeta que aprendi a admirar por seu despojamento, por sua poesia, seu aceno de palavras. Aceite minha gratidão.
De início, digo que não sou merecedor desta homenagem.
Mas as coisas acontecem e certamente não acontecem por acaso.
Para pessoas de meu feitio é muito difícil falar em ocasiões assim.
Mas é preciso dizer da honra que sinto por este momento, nunca imaginado em minha vida que foi sempre de luta em relação à poesia que tive em mim sempre como verdadeira militância, especialmente nos anos mais obscuros da história recente de meu país.
Lembro-me do menino que, com doze anos, era jardineiro, pegava esterco na periferia de São Paulo, para preparar a terra que usaria nas plantas. Era a maneira de sobreviver. Lembro-me do menino que escreveu seu primeiro poema aos onze anos, um pequeno poema que tinha todas as rimas em “ar” e “ão”, as mais fáceis da língua portuguesa, um pequeno poema que esse menino escreveu para o seu cão.
Depois o tempo foi seguindo seu caminho natural – eu acredito nas coisas naturais – e com pouco mais de vinte anos era preso algumas vezes por dizer poemas num dos locais mais conhecidos no centro de São Paulo, o Viaduto do Chá.
Eram poemas de um livro que se tornou famoso, “O Sermão do Viaduto”, com linguagem bíblica. Um microfone, quatro alto-falantes e uma voz dizendo poemas que tinham o objetivo de salvar o mundo. Eum acreditava que a poesia poderia salvar o mundo.
Hoje eu sei, tantos anos depois, que o mundo não tem salvação.
O que se salva é a poesia ainda possível, enquanto existirem poetas que respeitem a poesia como um ofício de vida, que façam da poesia uma espécie de prece pelos homens, pelas mulheres, pelas plantas, pelos bichos.
Eu venho de um país onde a poesia, infelizmente, se tornou uma coisa rara.