Poeta
Álvaro
Alves
de Faria

Canal do poeta

Cartas de Abril para Júlia

CARTAS DE ABRIL PARA JÚLIA NA ESPANHA MARÇO 2014

MAIS UMA VEZ EM SALAMANCA

Deixo um resumo do que eu disse no lançamento de “Cartas de Abril para Júlia”, com tradução da poeta espanhola Montserrat Villar González, que também escreveu o prefácio, publicação da Trilce Ediciones de Salamanca. O desenho da capa é do pintor Miguel Elias, também professor da Universidade de Salamanca. Esse agradecimento foi feito por mim no Centro de Estudos Brasileiros, da Universidade de Salamanca e depois repetido na Associação Cultural Tierno Galván, no chamado “Café Literário”, em Santa Marta de Tormes, presidida por Carmen Cabrera. É um resumo de todos os eventos. No lançamento no Centro de Estudos Brasileiros fui saudade pelo poeta peruano-espanhol Alfredo Perez Alencart, da Universidade de Salamanca, que já traduziu muitos poemas meus e o livro “Alma Afligida”. A seguir, Montserrat Villar González explicou aos presentes sua tradução de “Cartas de Abril para Júlia”. Trechos do livro foram lidos por vários poetas de Salamanca, como Soledad Sánches Mullas, Elena Dias Santana, José Maria Sánchez Terrones e Agustim Sequeros.

***

Outra vez aqui, entre amigos que representam companheiros de uma jornada a seguir. E sempre haverá uma jornada a seguir.

E sempre será necessário seguir.

Agradeço a todos que aqui estão presentes e isso também ocorre em nome da poesia. A poesia que às vezes tanto fere também tem o dom de unir as pessoas e dar identidade a um povo.

Agradeço ao Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca e à Sociedade de Estudos Literários e Humanísticos de Salamanca.

 Devo esta aproximação com Salamanca ao poeta Alfredo Perez Alencart, que me convidou para o X Encontro de Poetas Iberoamericanos, no qual fui homenageado como poeta brasileiro.

Exatamente eu que sou uma espécie de dissidente da poesia de meu país e há quinze anos me dedico à poesia de Portugal e, aos poucos, estou entrando na linguagem desta poesia da Espanha, nessa prosa mágica que tem quase sempre ao fundo a figura de um Quixote que me faz sobreviver em mim mesmo.

 Tudo em nome da poesia.

 Alfredo Perez Alencart tornou-se um grande amigo, traduziu muitos poemas meus, publicados na antologia do Encontro de Poetas Iberoamericanos e também no livro “Alma Afligida”, lançado aqui mesmo no ano passado.

 Eu agradeço a você, Alfredo, sua amizade e seu reconhecimento por uma poesia quase sempre amarga que escrevo e escrevo essa  poesia amarga porque sou resultado de um tempo amargo, quase sem saída.

 Quanto a este livro “Cartas de abril para Júlia”, meu agradecimento especial, de alma, vai para a poeta Montserrat Villar Gonzáles, que traduziu esta pequena novela, uma história de amor, quando as histórias de amor não existem mais. Traduziu com dedicação e delicadeza, um trabalho que me deixa envaidecido, porque sinto que Montserrat entrou no livro e com ele viveu seus momentos, seus encantamentos, seus desencantos, suas ausências e silêncios, sua dor e sua poesia.

 Alguns de meus livros foram parar nas mãos de Montserrat Villar González de uma maneira inesperada, que conto rapidamente. Numa leitura de poemas aqui mesmo em Salamanca, fui cumprimentado por uma universitária chamada Manuela. Ela estava muito emocionada e demonstrava isso nos olhos molhados. Peguei seu endereço e lhe prometi enviar alguns livros meus, o que fiz. Manuela passou os livros para Montserrat que me procurou algum tempo depois e me comunicou que estava traduzindo meu livro “Motivos Alheios”, de 1983, especialmente a segunda parte desse livro chamada “Resíduos”, escrita em 1969, quando estive preso por subversão. “Resíduos” foi escrito em 1969 e só foi publicado a primeira vez em 1983, por causa da ditadura em meu país.

Desse contato com Montserrat nasceu uma grande amizade que resultou na tradução de “Cartas de Abril para Júlia” que teve uma edição em Portugal, duas no Brasil e agora esta na Espanha, a partir de Salamanca, com a contribuição de Alfredo Perez Alencart.

Agradeço seu trabalho, Montserrat, sua poesia, seu cuidado em elaborar as palavras para dizer o que escreveu um poeta brasileiro, quase sempre sem rumo em relação ao mundo. Eu sou um desajustado de mim mesmo.

Posso dizer que Montserrat viveu o livro, entrou no livro, participou do livro, caminhou com sua narrativa, com seus dois personagens vivendo uma imensa solidão, que é a solidão de nosso tempo.

“Cartas de abril para Júlia” é uma história de amor. Essa história de amor é, antes de tudo, uma carta de amor à vida, o despojamento do homem diante e dentro de si mesmo, à procura de sua própria descoberta. Um homem e sua Rainha em terras de Espanha, com essa linguagem poética que procuro desvendar sempre, em seus segredos, mistérios e silêncios.

O livro é todo construído na linguagem da poesia, na narrativa poética que me vem de Portugal e entra nas palavras na época de Cervantes, essa poesia que cativa, que encanta e faz enaltecer o que ainda resta viver.

São somente 27 pequenos capítulos de uma história de amor, exatamente quando as histórias de amor deixaram de existir diante de uma brutalização que atinge a quase tudo. Mas é preciso seguir. Sempre será preciso seguir. Sempre será preciso abrir os braços e se deixar encantar pelo que resta da poesia e dos poetas que ainda insistem em existir.

SAUDAÇÃO DE ALFREDO PEREZ ALENCART

PERNOCTADAS DE UN QUIJOTE
APELLIDADO ALVES DE FARIA

A veces pareciera que el sueño estampa sus caprichos. Pero no se trata de caprichos; tampoco de sueños: lo que se reportan son esquirlas de otra realidad que preña el ADN del ser humano: ancestros, paisajes de antaño, historias del imaginario popular, vuelta a los orígenes… Todo confluye en este vuelo o travesía golondrina, en esta reconquista de suelos hispanos y lusitanos emprendida por un poeta brasileño al que lo aloca la saudade.

A veces pareciera que leemos unas cartas en prosa. Pero no se trata de cartas; tampoco de prosas: lo que florece es la Poesía ataviada cual Julia o Diosa ambarina: y el Amor mostrándose desde el reinado del alma o desde Argamasilla de Alba, por aldeas y lugares de una Península que siente como suya desde antes del éxodo: y también Amor a una lengua y a una tradición que recaptura  a sorbos, valiéndose de la ucronía y de aquello que dicta la noche de los tiempos.

Y en este viaje, cada noche pernocta en los brazos de una Dama a la que no puede ver el rostro. La única presencia de Julia es su inmanencia: ella posee al escriba que la pretende, lo asfixia en su intimidad, le quita las palabras hasta que desaparece la poesía. Entonces, ya viudo de su primera ciudadanía, el poeta empieza el lento desentierro de los tesoros que ocultó tras la navegación oceánica. A ella, con los blancos cabellos alborotados por el viento, pareciera decirle: “Óyeme estas oraciones que elevo para celebrar lo que no muere”.

PALAVRAS DE MONTSERRAT VILLAR GONZÁLES

Todos los que me conocéis mínimamente, sabéis que el jueves me sentí un poco huérfana porque el autor que más influyó en mi primer libro de poemas se nos fue. Todos sabéis de mi querencia por la poesía que se escribe desde las entrañas y se aferra a las del lector convulsionándolo. Así que es fácil entender que, a pesar de mi reciente orfandad, estoy infinitamente agradecida al destino por haberme regalado la poesía de Álvaro Alves de Faria. Cuando llegó a mí, llevaba algún tiempo traduciendo a poetas contemporáneos portugueses y buscando a ese autor en lengua portuguesa al que me gustaría atarme de una manera más firme. Hace dos años en esta misma sala, conocí, también a través de Pérez Alencart, a Álvaro Alves de Faria y después leí poemas como los siguientes:

 

Residuos

 

DESCRIPCIÓN

Las tardes de sol atraviesan las ventanas

y se callan en los ladrillos.

El corazón es un órgano repleto de callos.

La tarde desaparece como llega.

Los ojos son faroles que se apagan poco a poco.

La respiración ya no soporta

arrancar el aire a la oscuridad.

Si no fuera por los nervios crispados,

sería posible

levantar las manos hasta la reja,

para ver la partida de los verdugos.

 

PENSAMIENTO

 El tiempo no existe

entre las puertas y los fosos

de este lugar de palabras inmóviles

y gemidos desangrados.

No tengo reloj,

porque sería un arma

que podría facilitar el suicidio.

Adivino el tiempo

en este olvido del mundo,

la familia, los animales, las calles,

y, sobre todo, los jardines y plazas.

Recostado sobre las heridas,

soy capaz de contar las primeras estrellas del cielo

con los ojos vendados por el miedo.

Sería capaz de decir que todavía siento

el olor de mi sudor

y el frío de mi orina,

respirando un aire posible

ante el riesgo de una muerte súbita.

Sin embargo, nada de eso me reconforta,

ni los santos de las iglesias

ni los salvadores de la patria.

A duras penas pienso en silencio,

masticando el dolor

junto a los grillos casi muertos del patio.

 

Motivos ajenos

 

 SUICIDIO

 La dosis de veneno que tomé

con agua mineral de diseño

no fue suficiente.

Todavía conseguí llegar vivo al hospital

y me hicieron un lavado

con unos tubos de goma.

Habría sido mejor que hubiera usado el revólver.

 

¿CÓMO NO SENTIR LA NECESIDAD DE SEGUIR LEYÉNDOLO, ABSORBIÉNDOLO Y, FINALMENTE, SABER QUE ERA EL POETA AL QUE, SINCERAMENTE, ME GUSTARÍA INTENTAR TRADUCIR?

Después de esta evidencia, he estado dedicada a su poesía, que pronto verá la luz en Linteo y que Colinas ha aceptado y apadrinado generosamente. Pero en este tiempo, hablé con Alves, lo conocí personalmente y le regalé una traducción de un pequeño libro que me hizo llegar y del que escribí una “crítica personal y sincera” que él incluyó en su “um poeta brasileiro em Portugal”. La sorpresa fue cuando me escribió con la determinación de publicar dicha traducción y venirse a presentarla. Para ello, contó con el apoyo, siempre generoso, de Pérez Alencart que puso a su disposición la editorial. Y aquí estamos, con mi primera traducción de una obra completa que verá la luz, con una obra maravillosa que pertenece al Alves portugués, de saudades, búsqueda de los orígenes, emociones, ansias y expresión que nace de la cultura portuguesa más original. El Alves portugués que nada tiene que ver con el mundo poético del Alves Brasileiro. Pero, al fin y al cabo, el Alves que a mí, en cualquiera de sus expresiones, me llena y me hace sentir menos huérfana, literariamente hablando. Gracias, Álvaro Alves de Faria por tu expresión literaria. Gracias, Alfredo por hacérnosla llegar y acogerla, en esta ocasión, tan amablemente. Gracias a todos por acompañarnos esta tarde primaveral.

*

Cartas de abril

Haré que Julia renazca todos los días en mí. La convertiré en Reina y yo seré su amoroso siervo, para que pueda revelarme sus secretos. Caminaré con ella por las imágenes que me habitan, especialmente las nocturnas, con los ojos abiertos. Recorreré lugares que guardo, las iglesias medievales, los campos más antiguos. Pasearé por las páginas de los libros, en las palabras exhaustas. La Reina, decretará sueños. Podrá decretar silencios. También dolores. Decretará las tardes y las lluvias. También decretará cicatrices. Decretará la saliva de la boca. El espanto. Será una Reina que pueda crear sentimientos a la espera de las sombras. Será aquello que tiene que ser, el gusto de la naturaleza, el higo en el delantal de la mujer que no existe, solamente el ser invisible que corta el tiempo en el que no es.

Fotos

O Poeta

O Poeta

Poeta e Montserrat

Alfredo Perez Alencart, poeta e Montserrat

Alfredo Perez Alencart

Soledad S. Mulas

Agustín B. Sequeros

José Mª S. Terrones

Monteserrat, poeta e Carmen Cabrera

Monteserrat e poeta

Nacho Serrano

Nacho Serrano

Montserrat e poeta

Miguel Norberto Sánchez

auditório

auditório

Alfredo Perez Alencart, poeta e Montserrat

Alfredo Perez Alencart

Poeta

Montserrat

Alfredo Perez Alencart

Mesa do auditório

Elena Díaz Santana

Jorge Fragoso, de Portugal

Autógrafo

Autógrafo

Autógrafo

Autógrafo

Rosalía Cañete

Autógrafo

Autógrafo

Jaqueline A. Polanco

Carmen Prada

Arantxa Agudo

Ruth Torres

Alfredo Perez Alencart, Miguel Elias, Jorge Fragoso e Margarida

Ángel Marcos de Dios

Agustín B. Sequeros

Loli Ortega

Ajo Diz

Autógrafo

Alfredo, poeta, Montserrat e Miguel Elias

Jorge Fragoso, Alfredo, poeta, Montserrat e Miguel Elias

PREFÁCIO DE MONTSERRAT VILLAR GONZÁLES

Carta de Mayo para Álvaro Alves de Faria
Salamanca, 4 de mayo de 2013

La vida es un viaje, pero un viaje en el que muchos se conforman con ver pasar el paisaje ante sus ojos y otros, como usted, buscan dentro de su interior a lo largo y ancho de todo el camino. Cartas de Abril para Júlia, a mi modesto entender, es la metáfora de ese viaje interior: inquietante, desordenado, inacabado, como lo es el propio pensamiento y el reflejo de este en la prosa-poética que construye su pequeño-gran relato. Una búsqueda en la que el autor (usted, Álvaro Alves de Faria), es consciente de que la palabra no puede expresar lo que se clava en el alma y necesita imágenes que nos lleven a entender esa ansia de encontrar el lugar, su lugar de origen. ¡Qué difícil expresar si no existiera la metáfora ni la ruptura lógica del lenguaje!

La vida es un éxodo, pero todos somos conscientes de estar realizándolo cuando ya nuestra memoria está cargada de recuerdos, olores, sabores, palabras, poesía, que otros nos han transmitido. Es en ese momento en que la certeza, hasta ahora irrefutable, sobre nuestro origen, se convierte en obsesión y anhelo por llegar al lugar al que realmente se pertenece: “Quando invadiu-me, eu ainda acreditava nas coisas que me rodeavam” / “Ao ver Júlia, sabia que via também meus  passos em busca sempre das montanhas, onde me deixo ficar à espera de mim, como se me viesse alguma vez”. Julia, mujer deseada como el sentimiento, expresado por los místicos españoles, de salvar el abismo que separa del paraíso al poeta anclado a una realidad que no le llena. Imagen del otro mundo de partida de los navegantes del siglo XV, la Península Ibérica: Portugal, Idanha, Coímbra y España o Argamasilha de Alba.

Portugal, un lugar conocido a través de su literatura, historia, pero sobre todo a través de los ojos de sus progenitores. Por lo tanto, imagen engrandecida por recuerdos de su familia, recuerdos infantiles que se clavan en el alma. Por eso Julia: “tem gosto de açúcar na boca” como lo tiene la niñez. Imagen menos real que leyenda, pero leyenda  necesaria que los emigrantes crean en su memoria para poder sobrevivir al “destierro”, al igual que los primeros navegantes, al igual que Ulises. Origen y fin de esa búsqueda humana y de esa necesidad de conocimiento infinito que, a medida que alimenta, más ansias provoca: “Foço chaves para me trancar mais” / “Alimentava-me en raizes que me cortavam os pulsos”. Un Portugal, al fin, que representa la saudade de Pessoa y al que se reconoce literariamente en símbolos de la narración.

España, un Quijote que busca sueños que salvan del destierro, que llega a sentir el dolor de los fados, que es consciente de la inexistencia real de Júlia, Reina del lugar de origen del propio Cervantes (Argamasilha de Alba). Realidad y ficción, juntas para conseguir arribar al puerto que habita la memoria y salvarse de la conciencia de no ser nada sin encontrarse a uno mismo.

Realidad y sueño, noche y día: “Sei também que a Rainha Júlia pinta as unhas com a cor do crepúsculo, daqueles que não existem mais”… Julia, reina de un castillo que forma parte de un reino al que desea llegar y del que desea formar parte. Paraíso inalcanzable que dibuja en el corazón  las cicatrices que, este peregrinaje, al conocimiento de uno mismo va marcando. Espejos que reflejan el paso del tiempo y la larga distancia que separan al viajero de su añorado destino. Pero, destino, al fin, que da sentido a la vida y a su propia expresión, el poema: “Resta-me dela o que exauriu para sempre. O verso do poema e do poema a poesia inexistente, dessas que ferem por dentro e fazem sangrar sentimentos e desejos” / “Eu não conheço a Júlia […] mas ela vive dentro de mim. Respira dentro de mim,…”

Destino que mueve al poeta desde el inicio del mundo conocido y que se convierte en un viaje de ida que tendrá que ser recorrido a la inversa por el autor 6 siglos después, con todo el equipaje que su memoria y alma pueda soportar, para llegar a dar sentido a su existencia en el Viejo Mundo que sus padres, alguna vez habitaron: “Me deixas-te calar em ti sentimentos que em mim haviam morrido no século 15, quando sai de mim em busca do que me era permitido viver”.

Ojalá, mi admirado y, ya, querido poeta Álvaro Alves de Faria, llegue pronto a habitar en ese reino mágico de su memoria y que, como usted dice, “Ordenará sonhos. Poderá ordenar silêncios. Também dores. Ordenará as tardes e as chuvas. Também ordenará cicatrizes. Ordenará a saliva da boca. O espanto”. Ojalá, su alma se complete con las piezas del puzle que le faltan y sus anhelos se conviertan en vida. Ojalá, todos los que buscamos nuestros mundos de leyendas, canciones antiguas, historias contadas por abuelos y paisajes diferentes, encontremos la belleza alguna vez.

Mientras tanto, querido poeta, nos quedan los versos y los sueños que alimentamos con palabras.

 

Con mi mayor respeto y cariño.

Pernoctadas de un Quijote apellidado Alves de Faria

Uno agradece tener amigos como Álvaro Alves de Faria, pues cualquier encomio queda minimizado por la alta calidad de su escritura. No hay que exagerar nada. No es necesario hipérbole alguna para que su obra sea aceptada por quien a ella se acerque. El deleite está asegurado; pero no es un deleite que linda con la hermosura sino con el sacudón trascendente, con el desasosiego que no permite cicatrizar la herida… Pues ahora se ha empeñado en volver a la Salamanca que muy metida tiene en el corazón. Y como buen brasileño (aunque reniegue de ello), no desea venir con las manos vacías. En marzo traerá, como ofrenda, un pequeño librito escrito en aparente prosa. ¿Su título?: Cartas de abril para Julia. Esta obra se publicó por vez primera en Coimbra, el año 2010, con prefacio de Graça Capinha,  profesora de la Universidad de Coimbra. Al año siguiente hubo una edición brasileña. Y ahora, ya en el idioma de Cervantes en virtud de la acertada traducción de Montserrat Villar, se publica bajo el sello de Trilce. Para la contraportada de esta edición me pidió unas letras, que reproduzco más abajo.

Álvaro Alves de Faria

Pero antes, conviene dar algunos datos mínimos de este poeta que fue apresado por subversivo en tiempos de la dictadura de su país.

Álvaro Alves de Faria (Sao Paulo, Brasil, 1942), uno de los más destacados poetas brasileños actuales, autor de más de cincuenta obras en poesía, novela, ensayo o crónica. Ha obtenido importantes premios, entre ellos el Jabuti, en dos ocasiones. Su obra poética va desde Noturno Maior (1963) hasta Almaflita (2013), pasando por Tempo final (1964), O sermão do viaduto (1965), 4 cantos de pavor e alguns poemas desesperados (1973), Em legítima defesa (1978), Motivos alheios (1983), Mulheres do Shopping (1988), Lindas mulheres mortas (1990), O azul irremediável (1992), Pequena antologia poética (1996), Gesto nulo (1998), 20 poemas quase líricos e algumas canções para Coimbra (1999), Terminal (1999), Vagas lembranças (2001), Poemas portugueses (2002), A palavra áspera (2002), À noite, os cavalos (2003), Trajetória poética, (2003), Sete anos de pastor (2005), A memória do pai (2006), Os melhores poemas (2006), Bocas vermelhas-poemas para um recital (2006), Inés (2007) y Babel (2007), Resíduos (2012) y O Tocador de Flauta (2012), entre otros. En 2007 la Ciudad de Salamanca le tributó un homenaje, publicándole una antología titulada Habitación de Olvidos, con poemas suyos traducidos por A. P. Alencart.

 

3.

 (Pernoctadas de un Quijote apellidado Alves de Faria)

 A veces pareciera que el sueño estampa sus caprichos. Pero no se trata de caprichos; tampoco de sueños: lo que se reportan son esquirlas de otra realidad que preña el ADN del ser humano: ancestros, paisajes de antaño, historias del imaginario popular, vuelta a los orígenes… Todo confluye en este vuelo o travesía golondrina, en esta reconquista de suelos hispanos y lusitanos emprendida por un poeta brasileño al que lo aloca la saudade.

 A veces pareciera que leemos unas cartas en prosa. Pero no se trata de cartas; tampoco de prosas: lo que florece es la Poesía ataviada cual Julia o Diosa ambarina: y el Amor mostrándose desde el reinado del alma o, desde Argamasilla de Alba, por aldeas y lugares de una Península que siente como suya desde antes del éxodo: y también Amor a una lengua y a una tradición que recaptura  a sorbos, valiéndose de la ucronía y de aquello que dicta la noche de los tiempos.

 Y en este viaje, cada noche pernocta en los brazos de una Dama a la que no puede ver el rostro. La única presencia de Julia es su inmanencia: ella posee al escriba que la pretende, lo asfixia en su intimidad, le quita las palabras hasta que desaparece la poesía. Entonces, ya viudo de su primera ciudadanía, el poeta empieza el lento desentierro de los tesoros que ocultó tras la navegación oceánica. A ella, con los blancos cabellos alborotados por el viento, pareciera decirle: “Óyeme estas oraciones que elevo para celebrar lo que no muere”.

Don Quijote, óleo de Miguel Elias

FRAGMENTOS DE ‘CARTAS DE ABRIL PARA JULIA’
(Traducción de Montserrat Villar González)

2)

Haré que Julia renazca todos los días en mí. La convertiré en Reina y yo seré su amoroso siervo, para que pueda revelarme sus secretos. Caminaré con ella por las imágenes que me habitan, especialmente las nocturnas, con los ojos abiertos. Recorreré lugares que guardo, las iglesias medievales, los campos más antiguos. Pasearé por las páginas de los libros, en las palabras exhaustas. La Reina, decretará sueños. Podrá decretar silencios. También sufrimientos. Decretará las tardes y las lluvias. También decretará cicatrices. Decretará la saliva de la boca. El espanto. Será una Reina que pueda “crear” sentimientos a la espera de las sombras. Será aquello que tiene que ser, el gusto de la naturaleza, el higo en el delantal de la mujer que no existe, solamente el ser invisible que corta el tiempo en lo que no es. Reina de mi intimidad, Julia se dedicaba a coger semillas, especialmente de granadas. También de uvas y cerezas. Cerezas rojas que dejaban en su boca una línea roja de mujer. La aldea de su reino silenciaba los vientos de las tardes y dejaba que las ovejas caminasen distancias. No hablábamos. Teníamos la boca unida en un beso invisible, como si nos escondiéramos en un estuche de terciopelo, donde los presentimientos vivían inquietos. Todas las mañanas, yo abría las ventanas del castillo de donde reinaban gestos. Cortinas oscuras hacia el verde de las planicies. Julia me extendía su delantal de silencios y guardaba mis últimos gestos, aquellos que caían de mis manos. Guardaba también mis pensamientos. Guardaba, incluso, las imágenes que yo cogía de las nubes y de un mar imaginario, del que partía todos los días de mí, como si caminase a mi alrededor, para buscarme en una iglesia de dioses perdidos. Después iba conmigo a recoger las piedras que nos contaban historias por la noche. Nos olvidábamos, entonces, de nosotros mismos y nos dejábamos adormecer como se duermen las aves en las ramas de los árboles, en la ropa que nos cubría bajo el frío de la niebla, porque las montañas se cubren de blanco y el paisaje, entonces, se recrea en el verde húmedo junto a los zapatos.

Mozas de pueblo, pintura de Miguel Elias

4)

Campesina, Julia, caminaba descalza en mi cuerpo, en mi piel, como si trazase  su camino por las colinas con mis pies, atravesaba las planicies y los olivos, los pequeños ríos de aguas oscuras, aquel olor de las tierras portuguesas y españolas, aquellas mujeres que en el azul de la noche derramaban aceite en un plato con sal, el pan, el vaso de vino y el beso que oscurecía las copas de licor. Campesina, Julia, caminaba sobre mí, atravesando tierras, aldeas, casas, villas, hombres y mujeres que cantan esa música en los retratos, ella, Reina mía, de las tierras de España, de Portugal, las piedras de Idanha, los vientos que queman los ojos en la memoria, las iglesias con sus santos heridos, heridas profundas, súplicas sin palabras, de este modo el camino, el camino, el camino, el camino, ella, campesina sobre mí, Argamasilha de alba, mujeres hechas en el tallo de las plantas, los pies de uva, la saliva que se consume y en algunos minutos desaparece de la boca. No conozco mis andanzas en tu búsqueda, encontrarte en el “bucolismo” en que me pierdo, lo que me salva de ti, un amor sin cura, lo que me adivina y te presiente: si no puedo saber de ti por mi destino, sé que nunca sabré tampoco de mí. Sé que parto de mi puerto de náufrago con mi nave y dejo en ti, en la blusa blanca, la tormenta de mis duelos, como navegando los océanos del alma en aguas de sal, partiendo de mí para siempre, sin nunca abandonar el puerto. De suerte que enfrento lo que se me presente, lo que guardo por sentimiento, el beso que queda en la boca y que no siente la palabra de tu lamento. El momento que sigue a tu silencio que me lamenta, dirigiendo mi amor hacia el largo olvido. Mi último amor se muestra callado y sale al campo para siempre, sin estar nunca a mi lado, sale para siempre con mi celo y mi cuidado, se va dentro de la tarde con su rostro cansado, en mí el silencio calla, la imagen más antigua que de sí nunca habla, que a veces canta y a veces llora en su propio olvido, que se abraza a sí mismo para esconder su lamento.

 

9)

Como si fuera del infinito la nítida palabra escondida en el cielo de la boca. Cuando la Reina Julia atravesó la planicie de mi cuerpo, dejó en mí las marcas de sus uñas. Al entrar en ella, redescubrí el poema perdido. Anduvimos, entonces, agarrados, caminantes de nosotros mismos entre las brumas de una mañana imposible. Caminé con sus pies, abracé con sus brazos, regresé a mí con sus pasos antiguos. Al ver mi cara en el espejo, vi las cicatrices de años y sentí mi distancia. Al mirarla, entonces, silencié las palabras últimas que todavía tenía en el bolsillo, como estrellas fugaces, de esas que caen detrás de las montañas. La Reina Julia del Reinado de Argamasilha me miró como se miran los árboles. Al dejar en mí su cuerpo, me abrió un lago dormido, como se abren las ventanas en las primaveras que ya no existen jamás. Cuando la Reina atravesó la calle me trajo la última luna del firmamento. Me trajo, también, la poesía del encantamiento, aquella que hace vivir en el espacio exiguo de la casa. Se acostó conmigo y se dejó absorber por mí, en ella recorrí las ausencias de mis dedos, mis manos cosidas a las paredes, mis deseos de marcharme de repente como parten las aves al final de las tardes.

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