Poeta
Álvaro
Alves
de Faria

Canal do poeta

MOTIVOS AJENOS RESIDUOS

Jorge Fragoso, Álvaro Alves de Faria, Antônio Colinas e Montserrat Villar González

“Motivos ajenos – Resíduos” foi apresentado ao público do XVIII Encuentro de Poetas Iberoamericanos, em Salamanca, Espanha, no dia 9 de outubro de 2015. Organizado pela Fundación Salamanca Ciudad de Cultura y Saberes, na representação do poeta peruano-espanhol, Alfredo Pérez Alencart, o importante evento cultural europeu reservou uma noite para a apresentação do livro do poeta Álvaro Alves de Faria no Centro de Estudos Brasileiros, da Universidade, que teve a presença do grande poeta espanhol Antonio Colinas, que dirige a Coleção de Poesia das Ediciones Linteo, a mais importante da Espanha. Traduzido pela poeta espanhola Montserrat Villar González, que também escreveu o prefácio, o livro foi publicado no Brasil pela vez no Brasil, em São Paulo, em 1983, edição da Massao Ohno. E foi o editor Massao Ohno que sugeriu a inclusão em “Motivos alheios” de “Resíduos”,  19 poemas escritos em 1969 dentro de uma prisão. A mesa do lançamento foi formada pelo poeta Antonio Colinas,  Montserrat Villar González, o poeta e editor português Jorge Fragoso e Álvaro Alves de Faria. Inicialmente falou Antonio Colinas, discorrendo sobre seu interesse em incluir “Motivos Ajenos – Resíduos” na coleção que dirige. A seguir, Jorge Fragoso falou sobre os livros do poeta publicados em Portugal, a maior parte deles por sua editora, a Palimage, de Coimbra. Em seguida, discursou Montserrat Villar González e finalmente o poeta Álvaro Alves de Faria. Toda a história do lançamento está nos textos a seguir, ilustrado por fotos feitas em vários momentos do evento cultural em Salamanca, um dos mais importantes do mundo.

PALAVRA DE MONSERRAT VILLAR GONZÁLEZ

Gracias a Alfredo Pérez Alencart porque él, a través del Encuentro de poetas iberoamericano, da a conocer a autores que de otra manera sería difícil leer y en mi caso, gracias a ello conocí la poesía de Álvaro Alves de Faría.

Gracias a Antonio Colinas porque confió en este proyecto y lo apoyó para que Linteo lo editara tan magistralmente.

Hace 4 años en esta misma sala escuché poemas como este

Residuos

 

DESCRIPCIÓN

Las tardes de sol atraviesan las ventanas

y se callan en los ladrillos.

El corazón es un órgano repleto de callos.

La tarde desaparece como llega.

Los ojos son faroles que se apagan poco a poco.

La respiración ya no soporta

arrancar el aire a la oscuridad.

Si no fuera por los nervios crispados,

sería posible

levantar las manos hasta la reja,

para ver la partida de los verdugos.

 

Y, de repente, nació mi interés por este poeta de cabello blanco que había venido para el Encuentro poético y para, en Coímbra, presentar su obra Resíduos, escrita en 1969 durante el encarcelamiento en Brasil de Álvaro Alves de Faria. Y después de un tiempo, Nela me dejó la poesía completa de Alves y empecé a traducir, algo que había hecho de una manera esporádica, pero que a partir de ese momento se convirtió en una de mis pasiones. Traducir, para mí, es la posibilidad de entrar en el alma de otro poeta, sentir a un ser sensible con una experiencia vital diferente a la mía y, en este caso profundísima, y poder transmitir lo que él ha escrito con la máxima fidelidad y respeto.

Y eso intenté hacer en Residuos o 19 breves poemas escritos en 1969 que relatan la experiencia en prisión con un lenguaje e imágenes que sobrepasan cualquier intento racional de lectura, inyectando en el lector el dolor, sufrimiento, desvanecimiento ante la tortura, falta de realidad y esperanza que el poeta debió sentir en sus prisión, convirtiendo al poema en el único hálito de oxígeno que le permita respirar. Pero también, en Motivos ajenos (1983), donde existe un poeta para el que la poesía es el arma que nos salva de nosotros mismos, de ese instinto de autodestrucción cuando del mundo ya no se espera nada más que hastío y soledad. Es la expresión de la inexpresión de uno mismo, la conciencia que se debate ante la observación del mundo que se derrumba a nuestro alrededor. Es la búsqueda del último aliento antes de desaparecer. Para ello, la poesía es existencia y subsistencia en sí misma y por sí misma; son instantes o, más bien, lo que queda después de un instante, un gesto, un movimiento respiratorio. La ironía, la expresión del absurdo, la carcajada compulsiva que ridiculiza la muerte, la desesperación… forman parte de estos poemas.

 

SUICIDIO

La dosis de veneno que tomé

con agua mineral con gas

no fue suficiente.

[…] habría sido mejor que hubiera usado el revólver.

 

Pero Alves no se quedaba aquí, y después de este poeta, o paralelo a este poeta brasileño, existe un poeta portugués más lírico, legendario, romántico, en busca de sus raíces personales y literarias. Un autor al que leo compulsivamente y que en cada lectura me ofrece algo nuevo: ternura, mordacidad, rabia, amor, pasión, llanto, … pero para el que la palabra es el motor y el alma de las cosas y eso, y toda su magia, es la que nos regala.

PALAVRAS DO POETA ÁLVARO ALVES DE FARIA

A história deste livro é algo à parte.

Agora chama-se “Motivos alheios – Resíduos”.

Assim foi batizado pela poeta Montserrat Villar González, que o traduziu e colocou “Resíduos” no título.

 “Resíduos” foi escrito em maio de 1969, quando estive preso por longo período no Brasil.

São 19 poemas que escrevi no pensamento e guardei na cabeça, porque eu não dispunha nem de papel, nem de caneta ou lápis.

Caneta e lápis eram considerados instrumentos de suicídio pela repressão.

Quando fui libertado, passei os poemas para o papel.

Escritos em 1969, só foram publicados a primeira vez em 1983, assim mesmo como segunda parte de “Motivos alheios”, por sugestão do editor Massao Ohno, que publicava os então chamados “novíssimos” de São Paulo.

 “Motivos Alheios” – só “Motivos Alheios” – comemorava então vinte anos da publicação de meu primeiro livro adolescente, chamado “Noturno-Maior”, escrito quando eu tinha 16 anos de idade e publicado em 1963.

 A segunda parte “Resíduos” ficou lá esquecida dentro do livro, até que Montserrat conheceu “Trajetória Poética”, coletânea publicada pela Editora Escrituras de São Paulo em 2003 com toda minha produção poética até então.

 Montserrat gostou de “Motivos Alheios” e especialmente de sua segunda parte “Resíduos”. Quando contei a ela a história de “Resíduos” empenhou-se mais na sua tradução.

 E o livro passou a chamar-se “Motivos Alheios – Resíduos”. E, de repente, pelo olhar de Montserrat, eu senti o significado destes 19 poemas, o que eles representam até mesmo como documento de um período brasileiro que foi a ditadura.

Eu tinha mesmo uma vida dupla e já tinha sido detido outras vezes como subversivo por declamar poemas no Viaduto do Chá, com um microfone e quatro alto-falantes.

Sentindo esse significado, recentemente “Resíduos” foi publicado como um livro de 19 poemas e não mais como segunda parte de “Motivos Alheios”.

A própria Montserrat Villar González se encarregou de procurar uma editora espanhola para publicar “Motivos Alheios – Resíduos”.  Apresentou-me o grande poeta Antonio Colinas, que dirige a mais importante Coleção de Poesia da Espanha, com poetas de todo mundo, em livros feitos como obras de arte.

Eu conhecia a poesia de Antonio Colinas e confesso ter me emocionado ao estar diante de um poeta que sempre me mereceu todo

respeito e que nunca imaginei que conheceria um dia pessoalmente.

Antonio Colinas aceitou o livro e o incluiu na coleção, o que representou, para mim, uma das coisas mais importantes em minha vida de poeta 24 horas por dia, eu que, de alguma maneira, sou uma espécie de dissidente da poesia de meu país, uma poesia – sem generalizar – que, atualmente, se mede pela mediocridade enaltecida pelos suplementos culturais desonestos que não tem compromisso com nada.

Quero repetir: sem generalizar, porque o Brasil dispõe, sim, de excelentes poetas que levam a palavra a sério, que respeitam a poesia  como ela deve ser respeitada.

Por isso fugi para Portugal, terra de meus pais, em busca da poesia que me falta no Brasil. Já publiquei 14 livros em Portugal, treze de poesia e uma novela, “Cartas de Abril para Júlia”, também traduzida por Montserrat e publicada pelo poeta generoso a amigo do coração Alfredo Perez Alencart, que também traduziu vários de meus livros e me convidou, como homenageado, para o X Encontro Iberoamericanos de Poetas, em 2007, nesse ano dedicado ao Brasil, o que resultou em uma antologia de poemas por ele traduzidos de 370 páginas.

E vejo agora que de Portugal começo a caminhar pela Espanha e isso devo a este poeta, Alfredo Pérez Alencart, que me trouxe para esta terra que também passou a ocupar um lugar especial na minha vida.

 Devo também a Montserrat Villar González que, por iniciativa própria, trabalha em vários livros meus, mulher poeta de muitos caminhos a seguir nas pedras áridas da poesia.

 A poesia sangra e corta por dentro. Mas será preciso sempre prosseguir em favor do homem, em favor da vida ainda possível de viver.    

PRESENTACIÓN DEL LIBRO ‘MOTIVOS AJENOS / RESIDUOS’
(LINTEO, ORENSE, 2015),
DE ÁLVARO ALVES DE FARIA
Traducción de Montserrat Villar

Intervinieron Jorge Fragoso, Montserrat Villar, Antonio Colinas y el autor. La lectura de poemas en español estuvo a cargo de Elena Díaz Santana, Mª Ángeles Gutiérrez Tábara, Sofía Montero y Mª del Carmen Prada Alonso (Colaboración especial de la Asociación Pentadrama).

Jorge Fragoso, Álvaro Alves de Faria, Antonio Colinas y Montserrat Villar

Faria y Colinas

Colinas, Villar y Faria

MOTIVOS ALHEIOS

Os motivos são sempre alheios,

no corte, na mesa,

na poltrona onde pousa a revista inanimada

e os braços pendem para a morte.

Os motivos são sempre alheios,

palavra escondida

atrás da xícara,

onde o lábio deixa os dentes

e a boca inventa

sílabas frias como o sopro.

Os motivos são sempre alheios,

como os olhos que desvendam

e transformam os segredos

e se deixam vestir de terra

entre a pétala e o cimento.

São sempre alheias as circunstâncias,

não nos cabe responsabilizar,

nem discutir.

Os motivos são alheios

à nossa vontade,

um ato em palco aberto,

boca escancarada para dentro do tempo.

Dormem os insetos nas solas dos sapatos,

luas se derramam pelas paredes

e peixes nadam alucinados

contra as pedras de sal.

O aquário é tão grande quanto o oceano,

o argumento se desfaz

contrário à vontade e aos motivos.

Somos alheios a este fato,

o motivo fala mais alto

nas gargantas de cristal.

Os motivos são alheios sempre alheios

à vontade do próximo:

o que vale é a postura que imacula o momento

e transforma a cena numa verdade

em que todos passamos a acreditar.

Villar, Colinas y Faria

Montserrat Villar

MOTIVOS AJENOS

Los motivos son siempre ajenos,

en las formas, en la mesa,

en el sillón donde reposa la revista inanimada

y los brazos cuelgan hacia la muerte.

Los motivos son siempre ajenos,

palabra escondida

detrás de la taza,

donde el labio deja los dientes

y la boca inventa

sílabas frías como un soplo.

Los motivos son siempre ajenos,

como los ojos que desvendan

y transforman los secretos

y se dejan vestir de tierra

entre el pétalo y el cemento.

Son siempre ajenas las circunstancias,

no nos corresponde responsabilizar,

ni discutir.

Los motivos son ajenos

a nuestra voluntad,

un acto en un escenario abierto,

boca abierta hacia el interior del tiempo.

Duermen los insectos en las suelas de los zapatos,

lunas se derraman por las paredes

y peces nadan alucinados

contra las piedras de sal.

El acuario es tan grande como el océano,

el argumento se deshace

contrario a la voluntad y los motivos.

Somos ajenos a este hecho,

el motivo habla más alto

en las gargantas de cristal.

Los motivos son ajenos, siempre ajenos

a la voluntad del prójimo:

lo que vale es la postura que purifica el momento

y transforma la escena en una verdad

en la que todos acabamos por creer.

Antonio Colinas

Jorge Fragoso

Álvaro Alves de Faria

Fragoso, Faria y Colinas

Elena Díaz Santana

Carmen Prada Alonso

Sofía Montero

Mª Ángeles Gutiérrez Tábara

Elena Díaz y Antonio Colinas

Otra imagen del grupo de autores, traductores y presentadores

MOTIVOS AJENOS RESIDUOS
(TRADUÇÃO PARA O ESPANHOL DA POETA MONTSERRAT VILLAR GONZÁLEZ)

Essa é a capa da edição publicada na Espanha neste mês (março, 2015) de “Motivos Alheios”, livro lançado em São Paulo em 1983, pela Editora Massao Ohno, no Museu de Arte de São Paulo – MASP – na Avenida Paulista. Coloquei como a segunda parte de “ Motivos Alheios” 19 poemas com o título “Resíduos”, escritos na prisão, em 1969, quando a ditadura brasileira se instalou definitivamente com a edição do Ato Institucional n.5, o famigerado AI-5, que calou a imprensa e determinou o fim de todas as liberdades individuais, o que resultou na prisão de muita gente. Os poemas de “Resíduos” escritos em 1969 ficaram inéditos até 1983. Foram “escritos” no pensamento, já que eu não dispunha nem de papel nem de caneta ou lápis, proibidos dentro da cela porque representavam um instrumento para a prática do suicídio. “Motivos Alheios” e “Resíduos” foram traduzidos pela poeta espanhola Montserrat Villar González, sem que eu a conhecesse. Montserrat leu o livro e – como ela diz – apaixonou-se por ele. Em 2012 entrou em contato comigo, no Brasil, pela Internet, depois da tradução concluída. Nesse mesmo ano, nós nos conhecemos em Salamanca, na Espanha. Foi quando ela leu a edição portuguesa de “Cartas de Abril para Júlia”, que também traduziu e já foi publicado em 2013 na Espanha pela “Trilce Ediciones”, do poeta e professor da Universidade de Salamanca Alfredo Perez Alencart. O lançamento ocorreu no Centro de Estudos Brasileiros na Universidade de Salamanca. “Motivos Ajenos. Residuos” está sendo publicado pela Linteo Ediciones, uma das maiores editoras da Espanha, numa coleção dirigida por um dos maiores poetas espanhóis da atualidade, Antonio Colinas, reunindo, em livros de capa dura e um zelo gráfico raro, os maiores nomes da poesia do mundo. A tradução de Montserrat é delicada, segura e consistente. Como poeta exemplar que é, Montserrat sentiu os poemas como eles são, uma narrativa de um tempo amargo que envolvia todas as coisas. Ela soube captar esse sentimento. Um trabalho do qual me orgulho como poeta que ainda sou. Obrigado, Montserrat.

PRÓLOGO:

CONVERSANDO CON ALVES DE FARIA

[…] Nada tengo que ver con la poesía brasileira lo que, convengamos y sinceramente, no tiene ningún significado, ninguna importancia. Recurro a Manuel Bandeira, a un solo verso de su poema  Testamento, que escribió el 29 de enero de 1943: «¡Soy un poeta menor, perdonad!».

[…] «En mi país, los poetas -en su gran mayoría- se han transformado en tecnócratas del poema» […] «Brasil es una herida que tengo, que sangra, sangra, sangra, sangra. Un país que sangra. Sangra dentro de mí» […] «Por motivos como estos, busqué la poesía en Portugal, para salvarme en la tierra de mis padres, donde viven mis raíces y tal vez los últimos sueños que todavía tengo que vivir en forma de poesía, que es mi respiración».

Álvaro Alves de Faria, poeta brasileiro de padres y corazón portugueses, nacido en São Paulo en 1942, que cumplió, en 2013, 50 años desde la publicación de su primera obra poética, Noturno maior. En Brasil es uno de los nombres más significativos de la Generación de los 60, aunque en la actualidad es reconocido como un poeta portugués, como él se define desde hace 20 años: «Soy un brasileiro extranjero en Brasil». «[…] Mi poesía está en Portugal. Para mí, Brasil dejó de existir, hasta que nuevos aires soplen por estos paisajes destruidos por los mentirosos de siempre».

Es autor de más de 50 libros de poesía, novelas, ensayo literario y teatro. Pero él se ve como, fundamentalmente, poeta. Según sus propias  palabras, escribió su primer poema con 11 años, cuando era jardinero; y su primer libro (Noturno Maior) fue escrito con 16 años cuando ya trabajaba en un periódico, aunque se publicó en 1963. Desde ese momento, forma parte de la Generación de los 60 en Brasil, jóvenes de 20 años que se reúnen alrededor del editor Massao Ohno. Estos jóvenes poetas llevaban a cabo encuentros literarios y recitales en universidades y teatros. Cuando estalló el Golpe Militar de Brasil, en 1964, Álvaro Alves de Faria publicó el libro Tempo final que hablaba de la falta de esperanza en el futuro y la vida (sólo tenía 20 años). Y en 1965 presenta O Sermão do Viaduto, en pleno Viaduto do Chá, en el centro de São Paulo. Fue una manifestación deliberadamente política, que lo llevó a ser detenido cinco veces por subversivo y a que se prohibiera esta obra en 1966. En 1969 lo vuelven a detener por diseñar los panfletos y carteles del Partido Socialista Brasileiro, en aquel momento, clandestino. De todos los poetas de esta generación que en los años 60 formaron parte de la “Antología dos Novíssimos” quedan pocos, según el poeta, porque la mayoría prefirió la vida práctica.  En voz de Álvaro Alves de Faria, la poesía no es un oficio fácil, deja cicatrices profundas. Así, señala, de pronto, casi todos son poetas y, de pronto, casi todos dejan de serlo. Para él, ser poeta es una especie de dolencia que no se cura y por eso los más prácticos intentan buscar otros caminos. Esto le lleva a reflexionar sobre la poesía actual de Brasil, de la que opina que, sin generalizar, se puede tachar de mediocre, yendo de la mano de un periodismo cultural también mediocre en el que los autores se presentan como inconsecuentes, sin compromiso con nada, olvidando que existe el llamado “proceso histórico” que se encargará de poner a cada uno en su sitio. Para poder superar esta prueba se debe ser honesto con la poesía, respetarla como forma de arte literaria e identidad de un pueblo.

Confesándose pesimista en relación al mundo y a casi todo, cree (respecto a la generación de los 60) que la poesía se transforma en un oportunismo ligado a los medios culturales. En los años 70, como periodista, fue editor de un suplemento cultural en el extinto Diário de São Paulo, publicación democrática comprometida con la libertad de información en la que trabajaba con un censor de la Polícia Federal a su lado. Fue, según recuerda,  un periodo difícil y humillante porque la censura cortaba todo, sin posibilidad de ningún tipo de oportunismo. En aquella época por desavenencias y discusiones con el censor, fue requerido varias veces ante la policía. Tiempos de los que se enorgullece, igual que se enorgullece de haber sido jardinero a los 12 años y de pasar miserias en su juventud. Pero el tiempo pasa, y hay imágenes un poco amargas como lo es la relación que ahora mantiene con los poetas de la Generación de los 60 de São Paulo, definiéndose como un poeta aislado, en la actualidad, por no soportar la mediocridad reinante en todo el país y en la literatura. A pesar de tener muy buenos amigos poetas, poetas serios, honestos que saben lo que desean de la vida y de la poesía especialmente, él huyó a  Portugal y se autodenomina poeta portugués. Denominación poco práctica pero sí de gran significado simbólico.

O poeta e Montserrat antes do início de uma palestra sobre poesia em Salamanca

Durante los años 60, antes de la dictadura, la situación cultural en Brasil era muy enriquecedora en la literatura, en la música popular, en las artes plásticas y en el teatro. Se hacía sentir en el ambiente esta riqueza y los poetas, como señalamos antes, llevaban a cabo múltiples recitales. En el caso de A. A. de Faria eran poemas sociales, pero no panfletarios. Durante este periodo se discutía de arte en cualquier lugar, lo que llegó también al periodismo que dejó de ser servil al gobierno. Pero el Golpe militar acabó con todo. Y comenzó, así, la vida clandestina y peligrosa para mucha gente. A. A. de Faria perteneció al llamado Centro Democrático Espanhol y a un grupo que se reunía en una casa de un barrio de São Paulo y que una noche fue atacada por el ejército,  muriendo muchas personas. A pesar del peligro, los recitales seguían llevándose a cabo por aquellos poetas que se revelaban a ese escenario político. En aquella época él escribía una crónica diaria en el periódico donde trabajaba y en ella expresaba su indignación con la situación del país lo que la acarreó algunos problemas.

Recordando en profundidad el momento del lanzamiento del O Sermão do Viaduto, comenta que, en un lenguaje bíblico, invitó a todos los poetas jóvenes de la época, la noche del 22 de abril de 1965 (descubrimiento del Brasil) a presenciar la lectura. Con bastante concurrencia de público, la policía no faltó a la cita aunque sólo como meros espectadores. Pero posteriormente, llevó a cabo, él sólo, 9 recitales más en el viaducto, armado de  micrófono y cuatro altavoces. Fue en ese momento en que comenzaron los problemas, siendo interrumpido el recital por agentes del DOPS 5 veces y deteniéndolo otras tantas veces por subversivo y antipatriótico. En agosto de 1966 se prohibieron definitivamente los recitales en el Viaduto do Chá. Pero él siguió, con su actitud provocadora, realizando recitales.

A pesar de todo, estas detenciones no fueron las que más lo marcaron personalmente. En 1969 con la dictadura completamente instalada, vigilado en su trabajo de periodista por un censor, dejó de publicar su propia poesía, que tampoco pasaba la censura y continuaba con su vida clandestina. Realizó una exposición de pintura en São Paulo en una galería relacionada con los Dominicos. En la Iglesia de los Dominicos de São Paulo (continuamente vigilada), se reunían los poetas, escritores e intelectuales de izquierda. En la exposición, por los cuadros, descubrieron que era él quien dibujaba los carteles del Partido Socialista Brasileiro. Fue detenido durante algún tiempo, señalando esa prisión como la que permanecerá en él para siempre. No fue torturado físicamente, pero sí psicológicamente. En ese momento escribió Residuos (poemas guardados en la memoria ya que no contaba con lápiz y papel y, aunque los hubiera tenido, no habría podido escribir dichos poemas en la cárcel). Este libro se publicó en 1983 como segunda parte de Motivos Alheios para evitar la censura, aunque ya, en una época de mayor apertura política. Recordando la cárcel dice que los momentos más terribles fueron las humillaciones, esas cicatrices no desaparecerán jamás.

Sobre la época literaria posterior de Brasil y la actualidad opina que no existe (sin generalizar) la poesía. En Brasil, según sus palabras, hay grandes poetas, honestos que son olvidados por la crítica mediocre y un periodismo que se autodenomina cultural pero que todavía es más mediocre. Se inventan nombres de “poetas” de la noche al día que desaparecen instantáneamente. Es un país gobernado, en la actualidad, por gente que traicionó su propia vida, gente que convivió  con él y que se olvidó de todo cuando llegó al poder. Razones por las que se siente traicionado, ya que durante más de 20 años se luchó por conseguir lo que ahora no se recuerda. Esta situación le crea un gran dolor, desasosiego, frustración y tristeza. Dice vivir en “el país de la mentira”; la misma mentira contra la que siempre luchó. Ambiente que afecta también a la poesía, ya que se promociona a gente sin ninguna calidad, que no resistiría a una crítica razonable, con el apoyo de un periodismo cultural vagabundo, especialmente en las grandes capitales brasileiras, São Paulo y Río de Janeiro. Todo este ambiente descrito lo hace sentir, como ya hemos señalado, cansado. Por ese motivo llega a Portugal en busca de la poesía que le falta en Brasil.

Hijo de portugueses, desde hace 15 años, se dedica a la poesía portuguesa, convirtiéndose en disidente de la poesía brasileira, con el deseo de marcar distancias de la cultura y política de su país. Con rabia y decepción, con frustración e indignación; consciente de esa distancia entre la expresión de su poesía (según se trate de poesía brasileira o portuguesa), considera que durante el tiempo en que se dedicó a leer la literatura portuguesa encontró la diferencia que buscaba. Para él, la poesía portuguesa tiene significado más allá del meramente literario, se trata del significado existencial:  sus antecedentes, sus verdaderas raíces. Eso se evidencia en “O tocador de flauta”, poema en el que dialoga con Alberto Caeiro y su “O guardador de rebanhos”. Pero también se percibe esa búsqueda existencial, ese viaje hacia sus raíces en “Cartas de Abril para Júlia”, prosa poética a través de la que crea un mundo legendario unido a la naturaleza, la historia y el mundo simbólico de la literatura peninsular. Caeiro y El Quijote aparecen como personajes en el propio mundo que el autor busca para sentirse unido a ese lugar de historia y literatura secular. Para atarse a la cultura de nuestra península.

Podemos calificar a A.A. de Faria como escritor multidisciplinar, ya que es autor de poesía, novela, teatro. Pero en todas estas disciplinas, el universo siempre es el mismo. Así, la obra Salve-se quem puder que o Jardim está pegando fogo, en los años 70, por la que recibió el Prêmio Anchieta para Teatro, fue prohibida 15 días antes de su estreno y no se pudo llevar a escena hasta seis años después. Originalmente trataba de cuatro personajes en una celda, pero una vez liberada la obra de la censura, fue obligado a situar a los cuatro personajes en un consultorio médico. Otra obra escrita sobre la vida del poeta Augusto dos Anjos fue mutilada por la censura ya que usaba personajes que representaban a figuras históricas del país. En las novelas destaca, sobre todo, la experiencia vivida como militante de la izquierda: O tribunal (que fue llevada al cine), O Defundo – Uma história brasileira y Autópsia. Pero, aun así, se siente fundamentalmente poeta. y, afirma que, incluso escribiendo prosa, lo que hace es escribir poesía en forma de prosa. Este universo hasta ahora descrito cambia con la poesía de Portugal: cambia la forma del poema, la melodía, el ritmo del poema. La visión del mundo y de las cosas continúa siendo amarga. Su poesía no hace concesiones, va hasta las últimas consecuencias. Por ello es una poesía que hiere, que sangra y que está cargada de heridas. Una poesía que con una única palabra puede explicar todo, que duele y duele más cuando se es poeta las 24 horas al día, cuando se vive como poeta. Cuando se siente fuera del mundo y lo único que salva al poeta, cuando considera que todo llegó a su fin, es la poesía.

En su larga trayectoria como periodista, por su trabajo a favor de los libros y de la cultura, ha recibido dos veces el Premio Jabuti (1976 y 1983) y tres veces el Premio Especial de la Associação Paulista de Críticos de Arte (1981, 1988 y 1989). Ha sido merecedor de los premios literarios más importantes de Brasil, no sólo por su poesía sino también por su teatro. Y representó a Brasil en el Terceiro Encontro Internacional de Poetas da Universidade de Coimbra (1988), además de ser homenajeado en Salamanca en el X Encuentro de poetas Ibero-americanos (2007).

 

DOS LIBROS: DOS MOMENTOS DIFERENTES

Los dos libros que se presentan en esta edición aparecieron bajo el título de Motivos alheios en 1983, aunque ambos pertenecían a momentos vitales y literarios diferentes.

En 2012, en una visita del poeta a Salamanca, pudimos escuchar en primera persona los poemas pertenecientes a Resíduos, que se han reeditado en Portugal independientemente.

Residuos son 19 breves poemas escritos en 1969 que relatan la experiencia en prisión con un lenguaje e imágenes que sobrepasan cualquier intento racional de lectura, inyectando en el lector el dolor, sufrimiento, desvanecimiento ante la tortura, falta de realidad y esperanza que el poeta debió sentir en su prisión, convirtiendo al poema en el único hálito de oxígeno que le permita respirar: Los días recorren fluyen de la falta de aire / de la asfixia salvaje /de las paredes mojadas / y del suelo marcado con puñales.

 Lugar en el que el tiempo no existe porque la muerte representa cualquier futuro imaginado. Espacio en el que la tortura es la única realidad descrita racionalmente, lenta y dolorosamente como si estuviera sucediendo en cada lectura del poema: El tiempo te asusta y mueres / sin ver a los hijos, / la tierra abierta con tus banderas. / Nada de eso te permitirán ver, / ni un ápice de vida: / la tierra te traga […]

Tiempo y espacio en el que, incluso, cualquier noticia del exterior hiere mortalmente la lucha por la supervivencia que el poeta mantiene. Sentimientos que, a veces, son expresados con imágenes surrealistas que nos obligan a leer con los ojos del propio espanto que recuerda instantáneamente sensaciones de una vida placentera que parece alejarse a cada instante. Crítica social y humana sin contención, en que la palabra poética es la única salvación dentro de las rejas que le causan pavor y que lo convencen de que esa palabra jamás estará limpia y llena de ternura y libertad:  Yo quería escribir / el poema con letras blancas, / paloma girando en el espacio,[…].

Poemas dolientes que expresan la incomprensión, el miedo, la amargura que la cárcel marca en la voz poética y, por qué no decirlo, en el propio poeta. Él mismo  reconoce que su última prisión fue la que dejó huellas indelebles en su vida.

Motivos alheios es el título completo de ambos poemarios desde 1983 e incluye los poemas pertenecientes a Resíduos tanto en esa primera edición  como en su obra completa publicada en 2003 (Trajectória poética).  En esta ocasión, aparecen sus poemas originales, separados de Residuos, como el autor desea verlos. Aquí descubrimos al poeta Álvaro Alves de Faria que se presenta en toda su obra. Un poeta para el que la poesía es el arma que nos salva de nosotros mismos, de ese instinto de autodestrucción cuando del mundo ya no se espera nada más que hastío y soledad. Es la expresión de la inexpresión de uno mismo, la conciencia que se debate ante la observación del mundo que se derrumba a nuestro alrededor. Es la búsqueda del último aliento antes de desaparecer. Para ello, la poesía es existencia y subsistencia en sí misma y por sí misma; son instantes o, más bien, lo que queda después de un instante, un gesto, un movimiento respiratorio.

En su obra poética observamos elementos recurrentes como la mujer, seres vacíos, mecánicos, que no significan más que breves momentos de placer o recuerdos inútiles. En un mundo que observa y reconoce como frío y destructor del individuo, en el que el tiempo se agota inexorablemente haciendo que los días se pierdan sin dejar marcas. Sólo, en este mundo, la poesía se salva en un segundo irrepetible e inexistente, a pesar de afirmar que el poema se vuelve nulo en la propia nulidad de la poesía.

En este contexto literario nace Motivos Alheios cuyo primer poema nos invita a la coherencia vital frente a las circunstancias que nos rodean y que se presentan ajenas a nuestros principios. Una coherencia que el poeta refleja a través del conjunto de versos que pueblan sus escritos: vida incompleta, escéptica, agónica, cuyo devenir nos conduce a la relación casi íntima de la voz poética con la muerte en muchos de sus actos y a la observación de una realidad anónima e ignorante de ser observada que parece, con su rutina, oponerse a ese fin destructor que la voz poética acusa en todos sus actos. En este contexto, no nos sorprende leer: […] A las 10:35 de la noche, usted se acuesta / y yo me acuesto sobre usted / con la furia de un suicida. /Usted levanta las piernas doblando las rodillas / y yo entro con fuerza / sin ninguna palabra ni ningún suspiro. / La respiración se para y yo salgo de encima de usted. /Tengo la precaución de abrir, de nuevo, la ventana. / Abro la puerta y me voy. /En la calle, siento deseos de empotrarme / con el coche en el primer poste de la esquina.

Mujeres cuya rutina, falta de energía y vida, le inoculan el único deseo posible, la libertad de matarse después de salir de ellas. O, incluso, prevé mordazmente ese final antes de que suceda.

Tan cercanas son las mujeres a su instinto autodestructor que, incluso la muerte, se nos presenta, como una más de ellas, a la que el poeta invita a suicidarse (socarronamente) o a que lo mate, y si no lo hace, a que regrese en una fecha concreta.

Y en la que símbolos como el espejo, la realidad desordenada, la sombra o falta de ella, la certeza de que el veneno ingerido es posibilidad de final, los recuerdos de tiempos pasados son reflejos de esa vida que el poeta es consciente de no disfrutar pero, precisamente por ello, posibilidad de vida que duele e invita a la reflexión, al igual que lo invita la observación de seres y oficios anónimos como al de un albañil que construye un edificio sin mayor preocupación que la consecución de su obra: […] Levanta la casa y se marcha / a buscar otras vigas por la ciudad / recorriendo los días como un automóvil de 1938. / Yo continuaré en mi ventana / con mis ojos mojados.

Observación de una naturaleza, cuyos habitantes (en la ciudad o en el campo) viven mecánicamente sabiendo dónde está su lugar, sin imaginar que pudieran subsistir en otra dimensión diferente, ausentes de ese existencialismo que, al poeta, lo conduce siempre al mismo destino, la muerte: […] La vaca no sabe por qué existe / y da la impresión de estar cansada de todo.

Pero una visión en la que no faltan la ironía y el sarcasmo que nos hacen dibujar una sonrisa solidaria con el poeta que acaba de salvar su vida por un error de cálculo: La dosis de veneno que tomé / con agua mineral con gas / no fue suficiente. / […] habría sido mejor que hubiera usado el revólver.

Y del que celebramos que no sólo su error le salve la vida, si no que la poesía, expresión de su propio y más íntimo yo, lo ate a la vida.

Dos libros que por “circunstancias ajenas”  (intento de evitar una posible censura de la edición), fueron publicados como parte de una única obra (Motivos alheios) que descubren al poeta en momentos diferentes de su existencia, pero con un enriquecedor mundo que observa la vida desde el análisis y búsqueda de sí mismo, salvando el definitivo viaje al abismo con la palabra poética que dibuja cada sensación, cada instante, cada gesto como medicina que lo ata a la vida.

Dois poemas de Motivos Alejos Resíduos
traduzidos por Montserrat Villar González

MOTIVOS ALHEIOS

Os motivos são sempre alheios,

no corte, na mesa,

na poltrona onde pousa a revista inanimada

e os braços pendem para a morte.

Os motivos são sempre alheios,

palavra escondida

atrás da xícara,

onde o lábio deixa os dentes

e a boca inventa

sílabas frias como o sopro.

os motivos são sempre alheios,

como os olhos que desvendam

e transformam os segredos

e se deixam vestir de terra

entre a pétala e o cimento.

são sempre alheias as circunstâncias,

não nos cabe responsabilizar,

nem discutir.

Os motivos são alheios

à nossa vontade,

um ato em palco aberto,

boca escancarada para dentro do tempo.

Dormem os insetos nas solas dos sapatos,

luas se derramam pelas paredes

e peixes nadam alucinados

contra as pedras de sal.

O aquário é tão grande quanto o oceano,

o argumento se desfaz.

contrário à vontade e aos motivos.

Somos alheios a este fato,

o motivo fala mais alto

nas gargantas de cristal.

Os motivos são alheios sempre alheios

à vontade do próximo:

o que vale é a postura que imacula o momento

e transforma a cena numa verdade

em que todos passamos a acreditar.

MOTIVOS AJENOS 

Los motivos son siempre ajenos,

en las formas, en la mesa,

en el sillón donde reposa la revista inanimada

y los brazos cuelgan hacia la muerte.

Los motivos son siempre ajenos,

palabra escondida

detrás de la taza,

donde el labio deja los dientes

y la boca inventa

sílabas frías como un soplo.

Los motivos son siempre ajenos,

como los ojos que se desvendan

y transforman los secretos

y se dejan vestir de tierra

entre el pétalo y el cemento.

son siempre ajenas las circunstancias,

no nos corresponde responsabilizar

ni discutir.

Los motivos son ajenos

a nuestra voluntad,

un acto en un escenario abierto,

boca abierta hacia el interior del tiempo.

duermen los insectos en las suelas de los zapatos,

lunas se derraman por las paredes

y peces nadan alucinados

contra las piedras de sal.

el acuario es tan grande como el océano,

el argumento se deshace

contrario a la voluntad y los motivos.

somos ajenos a este hecho,

el motivo habla más alto

en las gargantas de cristal.

Los motivos son ajenos, siempre ajenos

a la voluntad del prójimo:

lo que vale es la postura que purifica el momento

y transforma la escena en una verdad

PENSAMENTO

O tempo não existe

entre as portas e os fossos

deste lugar de palavras quietas

e gemidos sangrados.

eu não tenho relógio,

porque seria uma arma

que poderia facilitar o suicídio.

Adivinho o tempo

neste esquecer do mundo,

a família, os animais, as ruas,

e sobretudo os jardins e as praças.

Deitado sobre as feridas,

sou capaz de contar as primeiras estrelas do céu,

com os olhos vendados de medo.

Seria capaz de dizer que ainda sinto

o cheiro do meu suor

e o frio de minha urina,

respirando o ar possível

na possibilidade da morte súbita.

No entanto, nada disso me conforta,

nem os santos das igrejas

e os salvadores da pátria.

Apenas penso em silêncio,

mastigando a dor

junto aos grilos quase mortos no quintal.

PENSAMIENTO

El tiempo no existe

entre las puertas y los fosos

de este lugar de palabras inmóviles

y gemidos desangrados.

No tengo reloj,

porque sería un arma

que podría facilitar el suicidio.

Adivino el tiempo

en este olvido del mundo,

la familia, los animales, las calles,

y, sobre todo, los jardines y plazas.

Recostado sobre las heridas,

soy capaz de contar las primeras estrellas del cielo

con los ojos vendados por el miedo.

sería capaz de decir que todavía siento

el olor de mi sudor

y el frío de mi orina,

respirando un aire posible

ante el riesgo de una muerte súbita.

Sin embargo, nada de eso me reconforta,

ni los santos de las iglesias

ni los salvadores de la patria.

A duras penas pienso en silencio,

masticando el dolor

junto a los grillos casi muertos del patio.

Fotos lançamentos

Poeta autografando

Antônio Colinas, Montserrat Villar González e Álvaro Alves de Faria

Poeta e Manuela

Poeta e Manuela

Teatro Liceu

Antônio Colinas

Marisa Martinez Pérsico, Argentina-Espanha

Poeta Alfredo Pérez Alencart, da Universidade de Salamanca, organizador dosEncontros dos Poetas Iberoamericanos

Antônio Salvado, de Portugal

Helena Diaz Santana, da Espanha

Pillar Fernández Labrador, membro da Fundación Salamanca Ciudad de Cultura e Sabares e Alfredo Perez Alencart

Carmen Prada Alonso

Álvaro Alves de Faria

Jaqueline Alencar, da Espanha

Maria Sameiro Barroso, de Portugal

Marian de Vicente, da Espanha

Grupo de poetas de vários países

Poeta e Jorge Fragoso

Montserrat Villar Gonzazes, Antônio Colinas e poeta

Poeta, Montse e Nacho – passeio em Salamanca

Montserrat e poeta

CADERNO DA CRÍTICA

Ramón Nicolás

Motivos ajenos. Residuos / Motivos alheios. Resíduos, de Álvaro Alves de Faria
Álvaro Alves de Faria

Motivos ajenos. Residuos / Motivos alheios. Resíduos
(tradución e introdución de Montserrat Villar González)

 Linteo poesía, Ourense, 140 páxinas, 15 €

Este pasado Nadal recibín, por xentileza de Linteo, un dos libros que o selo ourensán publicou o último ano. Trátase de Motivos Ajenos – Residuos, en versión bilingüe castelán-portugués do escritor brasileiro, radicado en Portugal,  Álvaro Alves de Faria, a onde foi vivir, como el mesmo sinala, “tentando salvar-me de um mundinho desprezível que atinge o jornalismo e a universidade”. A edición orixinal deste libro publicárase no Brasil, polo editor Massao Ohno, en 1983, e a súa lectura supuxo para min unha verdadeira descuberta.

Axuda a navegar pola estética, e a ética, do poeta o competente limiar debido á man da tradutora, a poeta galega Montserrat Villar que, nunhas poucas páxinas, revela as claves máis relevantes desta voz da denominada  ‘Geração 60’ paulista. A súa é unha voz marcada polo compromiso, pola intención belixerante, extraordinariamente crítica e nalgunha medida provocadora: unha poesía escrita para ser lida en voz alta onde o peso da oralidade e a busca da comunicación directa se erixen como características moi singulares dun traballo artístico entendido como militancia, onde a carga emocional, virada tantas veces cara ao desespero persoal e colectivo, domina tanto o poema coma a súa propia musicalidade. Interesoume moito, asemade, o segundo libro titulado Resíduos, “imaxinado” no cárcere, onde estivo detido en varias ocasións pola súa contestación á ditadura acusado de subversión, e logo incorporado ao papel. O propio poeta exprésase sobre el deste xeito:

Escrevi os poemas no pensamento e os guardei na cabeça. Não dispunha de papel nem de caneta, já que caneta ou lápis eram considerados instrumentos de suicídio pela repressão. Então eram proibidos aos presos. Fiz os poemas no pensamento e passei para o papel assim que fui libertado com as cicatrizes que nunca mais se fecharam. Não se fecharão nunca. Infelizmente hoje eu me olho no espelho e penso no Brasil como está atualmente. Então eu me pergunto sempre: “E então, Álvaro, foi para isto?”. É duro ver o país entregue nas mãos de verdadeiros bandidos, delinquentes sem qualquer tipo de escrúpulo. (….) Resumindo: Os poemas de “Resíduos” foram escritos em 1969 e só publicados pela primeira vez em 1983 e, mesmo assim, como a segunda parte de um outro livro.

Este libro ofrece, en fin, unha excelente oportunidade para nos achegar a unha voz próxima e, lamentablemente, pouco coñecida entre nós.

Poeta Álvaro Alves de Faria tem Motivos na carreira internacional

Poetas Álvaro Alves de Faria e Cyro de Mattos

“Escrevi os poemas no pensamento e os guardei na cabeça. Não dispunha de papel nem de caneta, já que caneta ou lápis eram considerados instrumentos de suicídio pela repressão. Então eram proibidos aos presos. Fiz os poemas no pensamento e passei para o papel assim que fui libertado com as cicatrizes que nunca mais se fecharam. Não se fecharão nunca. Infelizmente hoje eu me olho no espelho e penso no Brasil como está atualmente. Então eu me pergunto sempre: “E então, Álvaro, foi para isto?”. É duro ver o país entregue nas mãos de verdadeiros bandidos, delinquentes sem qualquer tipo de escrúpulo. (….) Resumindo: Os poemas de “Resíduos” foram escritos em 1969 e só publicados pela primeira vez em 1983 e, mesmo assim, como a segunda parte de um outro livro.”

Depoimento de Álvaro Alves de Faria

Álvaro Alves de Faria pertence ao grupo dos grandes Poetas brasileiros de hoje. Linha de frente formada por naipes de enorme poder estético como Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Carlos Nejar, Luiz de Miranda, Affonso Romano de Sant’Anna ou Renata Pallottini, Astrid Cabral, Maria Carpi, Olga Savary, Lya Luft.

(Capa da primeira edição do livro de poemas MOTIVOS ALHEIOS de 1983)

Poeta e Antônio Colinas

“A história deste livro é algo à parte.
 Agora chama-se “Motivos alheios – Resíduos”.
Assim foi batizado pela poeta Montserrat Villar González, que o traduziu e colocou “Resíduos” no título.
“Resíduos” foi escrito em maio de 1969, quando estive preso por longo período no Brasil.
São 19 poemas que escrevi no pensamento e guardei na cabeça, porque eu não dispunha nem de papel, nem de caneta ou lápis.
Caneta e lápis eram considerados instrumentos de suicídio pela repressão.
Quando fui libertado, passei os poemas para o papel.
Escritos em 1969, só foram publicados a primeira vez em 1983, assim mesmo como segunda parte de “Motivos alheios”, por sugestão do editor Massao Ohno, que publicava os então chamados “novíssimos” de São Paulo.
“Motivos Alheios” – só “Motivos Alheios” – comemorava então vinte anos da publicação de meu primeiro livro adolescente, chamado “Noturno-Maior”, escrito quando eu tinha 16 anos de idade e publicado em 1963.
A segunda parte “Resíduos” ficou lá esquecida dentro do livro, até que Montserrat conheceu “Trajetória Poética”, coletânea publicada pela Editora Escrituras de São Paulo em 2003 com toda minha produção poética até então.
Montserrat gostou de “Motivos Alheios” e especialmente de sua segunda parte “Resíduos”. Quando contei a ela a história de “Resíduos” empenhou-se mais na sua tradução.
E o livro passou a chamar-se “Motivos Alheios – Resíduos”. E, de repente, pelo olhar de Montserrat, eu senti o significado destes 19 poemas, o que eles representam até mesmo como documento de um período brasileiro que foi a ditadura.
Eu tinha mesmo uma vida dupla e já tinha sido detido outras vezes como subversivo por declamar poemas no Viaduto do Chá, com um microfone e quatro alto-falantes.
Sentindo esse significado, recentemente “Resíduos” foi publicado como um livro de 19 poemas e não mais como segunda parte de “Motivos Alheios”.
A própria Montserrat Villar González se encarregou de procurar uma editora espanhola para publicar “Motivos Alheios – Resíduos”.  Apresentou-me o grande poeta Antonio Colinas, que dirige a mais importante Coleção de Poesia da Espanha, com poetas de todo mundo, em livros feitos como obras de arte.
Eu conhecia a poesia de Antonio Colinas e confesso ter me emocionado ao estar diante de um poeta que sempre me mereceu todo respeito e que nunca imaginei que conheceria um dia pessoalmente.
Antonio Colinas aceitou o livro e o incluiu na coleção, o que representou, para mim, uma das coisas mais importantes em minha vida de poeta 24 horas por dia, eu que, de alguma maneira, sou uma espécie de dissidente da poesia de meu país, uma poesia – sem generalizar – que, atualmente, se mede pela mediocridade enaltecida pelos suplementos culturais desonestos que não tem compromisso com nada.
Quero repetir: sem generalizar, porque o Brasil dispõe, sim, de excelentes poetas que levam a palavra a sério, que respeitam a poesia  como ela deve ser respeitada.
Por isso fugi para Portugal, terra de meus pais, em busca da poesia que me falta no Brasil. Já publiquei 14 livros em Portugal, treze de poesia e uma novela, “Cartas de Abril para Júlia”, também traduzida por Montserrat e publicada pelo poeta generoso a amigo do coração Alfredo Perez Alencart, que também traduziu vários de meus livros e me convidou, como homenageado, para o X Encontro Iberoamericanos de Poetas, em 2007, nesse ano dedicado ao Brasil, o que resultou em uma antologia de poemas por ele traduzidos de 370 páginas.
E vejo agora que de Portugal começo a caminhar pela Espanha e isso devo a este poeta, Alfredo Pérez Alencart, que me trouxe para esta terra que também passou a ocupar um lugar especial na minha vida.
Devo também a Montserrat Villar González que, por iniciativa própria, trabalha em vários livros meus, mulher poeta de muitos caminhos a seguir nas pedras áridas da poesia.
A poesia sangra e corta por dentro. Mas será preciso sempre prosseguir em favor do homem, em favor da vida ainda possível de viver.”
Depoimento de Álvaro Alves de Faria

 

Antônio Colinas, Montserrat Villar Gonzáles e poeta

MOTIVOS ALHEIOS

Os motivos são sempre alheios,

no corte, na mesa,

na poltrona onde pousa a revista inanimada

e os braços pendem para a morte.

Os motivos são sempre alheios,

palavra escondida

atrás da xícara,

onde o lábio deixa os dentes

e a boca inventa

sílabas frias como o sopro.

Os motivos são sempre alheios,

como os olhos que desvendam

e transformam os segredos

e se deixam vestir de terra

entre a pétala e o cimento.

São sempre alheias as circunstâncias,

não nos cabe responsabilizar,

nem discutir.

Os motivos são alheios

à nossa vontade,

um ato em palco aberto,

boca escancarada para dentro do tempo.

Dormem os insetos nas solas dos sapatos,

luas se derramam pelas paredes

e peixes nadam alucinados

contra as pedras de sal.

O aquário é tão grande quanto o oceano,

o argumento se desfaz

contrário à vontade e aos motivos.

Somos alheios a este fato,

o motivo fala mais alto

nas gargantas de cristal.

Os motivos são alheios sempre alheios

à vontade do próximo:

o que vale é a postura que imacula o momento

e transforma a cena numa verdade

em que todos passamos a acreditar.

MOTIVOS AJENOS

Los motivos son siempre ajenos,

en las formas, en la mesa,

en el sillón donde reposa la revista inanimada

y los brazos cuelgan hacia la muerte.

Los motivos son siempre ajenos,

palabra escondida

detrás de la taza,

donde el labio deja los dientes

y la boca inventa

sílabas frías como un soplo.

Los motivos son siempre ajenos,

como los ojos que desvendan

y transforman los secretos

y se dejan vestir de tierra

entre el pétalo y el cemento.

Son siempre ajenas las circunstancias,

no nos corresponde responsabilizar,

ni discutir.

Los motivos son ajenos

a nuestra voluntad,

un acto en un escenario abierto,

boca abierta hacia el interior del tiempo.

Duermen los insectos en las suelas de los zapatos,

lunas se derraman por las paredes

y peces nadan alucinados

contra las piedras de sal.

El acuario es tan grande como el océano,

el argumento se deshace

contrario a la voluntad y los motivos.

Somos ajenos a este hecho,

el motivo habla más alto

en las gargantas de cristal.

Los motivos son ajenos, siempre ajenos

a la voluntad del prójimo:

lo que vale es la postura que purifica el momento

y transforma la escena en una verdad

en la que todos acabamos por creer.

PENSAMENTO

O tempo não existe

entre as portas e os fossos

deste lugar de palavras quietas

e gemidos sangrados.

eu não tenho relógio,

porque seria uma arma

que poderia facilitar o suicídio.

Adivinho o tempo

neste esquecer do mundo,

a família, os animais, as ruas,

e sobretudo os jardins e as praças.

Deitado sobre as feridas,

sou capaz de contar as primeiras estrelas do céu,

com os olhos vendados de medo.

Seria capaz de dizer que ainda sinto

o cheiro do meu suor

e o frio de minha urina,

respirando o ar possível

na possibilidade da morte súbita.

No entanto, nada disso me conforta,

nem os santos das igrejas

e os salvadores da pátria.

Apenas penso em silêncio,

mastigando a dor

junto aos grilos quase mortos no quintal.

PENSAMIENTO

El tiempo no existe

entre las puertas y los fosos

de este lugar de palabras inmóviles

y gemidos desangrados.

No tengo reloj,

porque sería un arma

que podría facilitar el suicidio.

Adivino el tiempo

en este olvido del mundo,

la familia, los animales, las calles,

y, sobre todo, los jardines y plazas.

Recostado sobre las heridas,

soy capaz de contar las primeras estrellas del cielo

con los ojos vendados por el miedo.

sería capaz de decir que todavía siento

el olor de mi sudor

y el frío de mi orina,

respirando un aire posible

ante el riesgo de una muerte súbita.

Sin embargo, nada de eso me reconforta,

ni los santos de las iglesias

ni los salvadores de la patria.

A duras penas pienso en silencio,

masticando el dolor

junto a los grillos casi muertos del patio.

Poemas de Álvaro Alves de Faria

Versão em Espanhol da poeta Montserrat Villar González

Minuta de Diego Mendes Sousa

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